segunda-feira, 20 de novembro de 2017

A vida mística no Espírito Santo – Parte II

Ler primeiramente:


Viver a vida mística é viver o amor radical de Jesus. Isso diferencia radicalmente a espiritualidade cristã da espiritualidade da Nova Era. A espiritualidade da Nova Era tenta um caminho de evolução a partir de si mesmo, fazendo-se de si mesmo um deus e atribuindo também a divindade à natureza e ao Cosmos, de forma panteísta. A espiritualidade cristã, ao contrário, aponta para um Deus pessoal, um Deus que se relaciona e um Deus que ama. Quando ocorre o Encontro, esse Deus passa a fazer habitação em nós. Há uma ruptura radical com o passado, e a vida é radicalmente transformada. Em nosso interior passa a haver um novo ser. A alma é transformada, e o espírito passa a abrigar, em seu interior, o Espírito do próprio Deus.

Essa é a vida mística. A vida mística, acima de tudo, é mistério. Porque Deus, como nos dizem os místicos, como Pseudo-Dionísio Areopagita e João da Cruz, é o Incognoscível. Deus é mistério, e o momento do encontro com Deus é o momento em que passa-se a inserir-se no mistério. A vida mística no Espírito Santo não é uma vida de poderes, emoções sensoriais, manifestações extáticas e barulho, mas uma vida permeada por uma relação radical misteriosa de santidade e amor com o Divino. Esse ser divino, dentro do Cristianismo, é entendido como um ser pessoal e que se manifestou claramente aos homens na pessoa de Jesus de Nazaré. A vida mística inicia-se, portanto, a partir de um encontro com Jesus que nos levará até o mistério, até o relacionamento desconhecido de amor e santidade que será sempre ascendente, que será radical, que envolverá todo o ser e apaixonará a alma.

Como diz Teresa de Calcutá, “no silêncio, Deus fala”. Enquanto a Nova Era prega a meditação transcendental como um caminho de autodescobrimento, a espiritualidade cristã mais profunda ensina a oração contemplativa, que é um relacionamento de amor entre o homem e Jesus, no qual a alma se descobre. Um Jesus subestimado pela contemporaneidade porque é um Jesus desconhecido, a doce preciosidade de Nazaré, que permanece por muitos esquecido, mas que espera para ser descoberto e levar a alma a um caminho ascendente e sem retorno no qual se crescerá ao infinito pelos caminhos do amor, porque o caminho de Jesus de Nazaré não é outro caminho senão o caminho do amor, um amor radical esquecido, mas que espera para ser encontrado.

sábado, 16 de setembro de 2017

A vida mística no Espírito Santo - Parte I

“Se vocês, apesar de serem maus, sabem dar boas coisas aos seus filhos, quanto mais o Pai que está no céu dará o Espírito Santo a quem o pedir!” (Lc 11.13)


Esse texto é uma das mais maravilhosas e pouco compreendidas proferições de Jesus.  E está em conexão com o seguinte texto de Mateus: “Se vocês, apesar de serem maus, sabem dar boas coisas aos seus filhos, quanto mais o Pai de vocês, que está nos céus, dará coisas boas aos que lhe pedirem!” (Mt 7.11). Sendo assim, enquanto em Mateus Jesus diz que Deus dá boas coisas aos que o pedem, em Lucas enfatiza que Deus dá o Espirito Santo aos que lhe suplicam. Dessarte, as Escrituras enfatizam que o Espírito Santo é a coisa mais desejada que se pode pedir a Deus. Poderíamos dizer que é mais desejada do que o ouro puro.

Mas porque, em nossa sociedade, não vemos pessoas pedindo a Deus o Espírito Santo?

Isso ocorre porque muita confusão se tem feito, nas pregações, a respeito da pessoa do Espírito Santo. Aliás, pouco se fala da pessoa do Espírito Santo, e pouco se fala do seu fruto, dando-se destaque ao poder e aos dons do Espírito, como se o poder e os dons fossem uma entidade a parte, separada da pessoa do Espírito.

Por causa dessa confusão e dessa visão “pesada” acerca do Espírito Santo, relacionando-o com manifestações extáticas, sensações, emoções, sentimentos, manifestações “de fogo”, balbúrdia e muito barulho nos ajuntamentos eclesiais, pouco se tem falado da doçura, da suavidade, da brandura, do silêncio, da docilidade e da generosidade do Espírito, características relacionadas ao seu fruto, o fruto do Espírito, conforme Gálatas 5.22-23.

E o fruto do Espírito descrito em Gálatas é: amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio (Gl 5.22-23). Características que têm a ver mais com a docilidade de alma e com o silêncio do que com barulho e manifestações “de fogo”, como se tem visto nos ajuntamentos eclesiais.

Uma pessoa cheia do Espírito Santo é uma pessoa cheia de Jesus. Assim, o que o texto de Lc 11.13 diz é que você deve pedir: “Jesus, dê-me do teu Espírito Santo. Dê-me do teu ser, de tua bondade e de teu amor. Dê-me de tua doçura e dê-me da tua salvação, através da qual posso ter em abundância a tua presença em meu íntimo, em meu ser”.

Essa perspectiva a respeito do Espírito faz toda a diferença. O Espírito Santo é o Espírito de Jesus, e recebê-lo significa receber Jesus, e significa ser salvo.

Viver a vida do Espírito de Jesus é viver a vida mística (para ver a definição cristã do que é “mística”, clique aqui). Através da vida de Jesus, somos transformados.

Viver a vida mística é viver uma vida nova, diferente, livre das ilusões e uma vida na qual é possível viver o amor de Jesus, realidade proeminente que convida todos à salvação, à graça, ao amor e à festa.


Mística - uma definição

A palavra “mística”, ou “místico”, a princípio, pode assustar, pois o seu sentido se tornou desgastado e desfigurado com o tempo, podendo aludir àquilo que é sensorial, irracional ou até mesmo ao ocultismo. Porém esse não era o significado utilizado pelos cristãos antigos. A palavra “mística”, na longa tradição da História da Igreja, sempre significou a união de amor radical e misteriosa entre a alma e Deus. Assim, “místico” é a pessoa que tem uma relação radical e misteriosa de santidade e amor com Jesus.

Além disso, a mística está também relacionada a uma certa ciência do espírito1, isto é, o místico, na História da Igreja, além de ser um santo é também um cristão que possui uma ciência espiritual elevada, e é capaz de ensinar e expor a filosofia do espírito em palavras.

Exemplos de místicos da História da Igreja são: Gregório de Nissa, Pseudo-Dionísio Areopagita, Agostinho, Bernardo de Claraval, Mestre Eckhart, Macário, Teresa de Ávila, Teresa de Lisieux, Teresa de Calcutá, Edith Stein (Teresa Benedita da Cruz), João da Cruz, Catarina de Siena e Faustina Kowalska, para citar alguns.

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Tal conhecimento e experiência Edith Stein irá denominar ciência da cruz

sábado, 2 de setembro de 2017

Secularismo – a ditadura silenciosa

Em termos de sociologia, podemos falar de um fenômeno hodierno que é sutil, nocivo e chega ao píncaro da hipocrisia. Estamos tratando do secularismo em sua forma atual: a ditadura silenciosa.

A ditadura silenciosa é o pior tipo de opressão, pois ela é sutil e camufla-se, nesse caso, com roupagens de tolerância e igualdade – liberdade, igualdade e fraternidade, o falso estandarte iluminista! – mas manifesta-se de modo completamente adverso ao que apregoa. Trata-se de uma ideologia implantada na mente das pessoas que funciona como uma fortaleza mental, um pensamento que os indivíduos manifestam inconscientemente porque foi instalado por estruturas institucionais, mediáticas e antirreligiosas.

Sendo assim, as estruturas institucionais, mediáticas e antirreligiosas, dizendo ser laicas, são, na realidade, anticristãs, pois vivendo em uma sociedade com cultura – mas não ideologia – cristã, prega valores que vão de encontro a essa cultura, através do aparelhamento ideológico que intenta transformar a sociedade em um regime opressor no qual qualquer manifestação social cristã tende a ser vista como algo intolerante, reacionário e deletério e, nas conversações informais, o Cristianismo é repulsado como sendo algo impróprio, e manifestações simpáticas ao ateísmo e à mentalidade da Nova Era são vistas como atitudes “modernas”, elegantes e sofisticadas.

Tal fenômeno, onipresente na sociedade, pode ser visto em todos os lugares: em conversas informais, no trabalho, nas redes sociais, na mídia e nas instituições educacionais. Porém, por ser algo muito sutil, é difícil de ser reconhecido, mas está implantado na mente da maioria, inclusive na mente de muitos cristãos que não construíram, ao longo de sua formação, uma sólida cosmovisão bíblica e cristocêntrica.

Por esse motivo, é necessário que as escolas dominicais e as instituições educacionais cristãs estejam atentas a esse fenômeno e ensinem uma sólida cosmovisão cristocêntrica e que seja resistente a essas manifestações, pois elas são extremamente nocivas aos valores da cultura cristã ocidental.

Dissemos, no início do texto, que tal fenômeno social é sutil, nocivo e hipócrita. Vejamos como ele coleciona, ao longo de sua trajetória, tais adjetivos.

É sutil porque não é exposto abertamente. Nenhuma emissora de televisão, nenhuma revista, nenhum jornal, nenhum partido político, nenhuma instituição educacional – e, por conseguinte, nenhuma pessoa comum influenciada por essas instituições – dirá abertamente: “Abaixo o Cristianismo! Vamos calar as ideologias intolerantes e reacionárias dos cristãos! Viva à liberdade antropocêntrica, ao materialismo e ao hedonismo, e que se dane os ensinamentos de Jesus!”. Contudo, isso é apregoado de maneira capciosa. Através de livros, novelas, reportagens, projetos de lei, etc., o antropocentrismo secular é apregoado, a filosofia cristã tenta ser desconstruída, passo a passo, e a sociedade, inconscientemente, é influenciada, de forma que, sem perceber, cria-se uma atmosfera na qual instaura-se uma ditadura silenciosa, em que qualquer manifestação de filosofia cristã profunda tenta ser calada como sendo algo impróprio e inadequado à sociedade. 

A sociedade já se tornou anticristã. Porém muitos, seguindo essas ideologias, se dizem cristãos, e não se apercebem disso.

É claro que há exceções. A música gospel cristã, por exemplo, é apreciada como algo belo e agradável por largas parcelas da sociedade. Contudo, qualquer colóquio mais profundo sobre a filosofia cristã é evitado, porque as pessoas estão armadas contra qualquer manifestação mais profunda do Cristianismo, de Jesus e sua Cruz. Dizendo-se cristãs, tornaram-se anticristãs. É a ditadura silenciosa do secularismo.

É nociva porque peca por ser intolerante e por ir contra aqueles valores fundamentais que norteiam a própria cultura,  dos quais ela está  impregnada. A essência do ensinamento do Cristianismo transcende o ateísmo, porque supera o reducionismo positivista, e transcende os ensinamentos da Nova Era, porque contempla um Deus transcendente e relacional. E não é religião velha. Apesar de ter tradição, é algo relacionado ao novo, porque a profundidade dos escritos dos cristãos místicos da Igreja permanece desconhecida (para ver a definição cristã do que é “mística”, clique aqui).

É hipócrita, porque diz que deseja a igualdade, diz que é cristã, mas rejeita os ensinamentos cristãos e intenta calá-los, a qualquer custo, através das instituições e através dos relacionamentos diários, nos diálogos informais.

O secularismo produziu, recentemente, um dos fenômenos mais sutis, nocivos e hipócritas que a cultura ocidental cristã já conheceu: a ditadura silenciosa.

Ela está entre nós.

Mas precisa ser denunciada e combatida, a qualquer custo.

sábado, 24 de junho de 2017

A concretude do Primeiro Grande Mandamento (Segunda Parte)

Ler primeiramente:



“Respondeu Jesus: ‘Ame o Senhor, o seu Deus de todo o seu coração, de toda a sua alma e de todo o seu entendimento’. Este é o primeiro e maior mandamento. E o segundo é semelhante a ele: ‘Ame o seu próximo como a si mesmo’. Destes dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas’ “. (Mt 22.37-40)


É notório que quando alguém ama verdadeiramente o seu próximo, colocando-o como protagonista nas relações humanas, e acolhendo-o genuinamente, está exercendo, de alguma forma, um certo tipo de amor para com Deus.

Contudo – e isto soará estranho aos ouvidos contemporâneos – isso, embora seja essencial, não é suficiente.

Há um outro tipo de amor, e é deste que trata esse texto, que refere-se diretamente à natureza de Deus, a quem o ser humano é convidado a amar de maneira última. Todas as coisas devem convergir para Ele – mais especificamente, a Jesus, que é o único Deus que existe, pois só existe um Deus, que manifestou-se aos homens na pessoa de Cristo, sendo a Trindade uma unidade que é mistério de três pessoas subsistentes em um único Deus. Três pessoas, mas uma única substância, conforme nos diz o Credo de Atanásio.

O que estamos tratando nesse texto é que a transcendência deve ser entendida como uma realidade concreta. Devemos tomar uma atitude coerente em nossas vidas: ou não se acredita em Deus, como Nietzsche e Richard Dawkins, ou se acredita, como John Wesley e Francisco de Assis. A suposta crença morna, que seria a tentação cômoda de um agnosticismo conceitual ou experiencial, deve ser evitada, pois é mais realista, em relação ao drama humano, uma das escolhas da aposta de Blaise Pascal. O morno, conforme nos diz a Escritura, não serve e deve ser rejeitado (Ap 3.15-16). Quem diz que acredita em Deus e não assume uma atitude relacional perante a Eternidade cai na incoerência e na hipocrisia ideológica. Todos somos, em última instância, ou como Nietzsche ou como Francisco de Assis. O meio-termo não existe.

Com efeito, para o Cristianismo, ainda que uma pessoa desse sua vida para salvar todos os homens do mundo, mas não amasse a Deus sobre todas as coisas, de nada adiantaria

Conforme nos diz Marko Ivan Rupnik, crer é amar. E para que Deus seja amado sobre todas as coisas de forma realista, é preciso que se supere o relativismo nauseante e se assuma a concretude do relacionamento para com Ele como pessoa concreta.

Esse é o verdadeiro sentido do amor. Amar aos homens a partir do amor de Deus, com o amor com que Deus ama. 

A concretude do Primeiro Grande Mandamento (Primeira Parte)

A sociedade pós-moderna tornou-se indolente para com a transcendência. Não se trata de um ateísmo explícito – e por isso o Neo-Ateísmo parece ser um movimento extemporâneo – mas uma apatia para com tudo que se relacione com o Sagrado. O sagrado, quando existe, é instável, e não é concretude – porque não se assume publicamente o sentido bíblico da confissão aberta de fé – o sagrado tornou-se esfera não do geral, mas do particular, do privado.

A fé cristã originalmente sempre foi pública, mas hoje corre-se o risco de cair naquilo que Jesus falou: “se alguém se envergonhar de mim e das minhas palavras, o Filho do homem se envergonhará dele, quando vier em sua glória do Pai e dos santos anjos” (ver Lc 9.26 e também Mc 8.38 e, em Ap 21.8, a palavra, conforme a tradução, “tímidos” ou “covardes”). Não é a toa que, em Ap 21.8, a palavra “tímidos” encontra-se junto da palavra “incrédulos”.

A sociedade cristã ocidental vive, hoje, uma contradição sem precedentes, de modo que a fé tornou-se assunto proibido dentro da esfera pública  essa proibição, não legislativa, mas social, é algo muito sutil , e tudo o que é reverenciado publicamente é aquilo que é convencionado na agenda mediática, que é uma agenda que, mais do que ser laica, é anticristã em sua essência, o que não é difícil de perceber quando se possui o mínimo de discernimento filosófico.

É dentro desse contexto que é possível constatar o esvaziamento do significado profundo do Primeiro Grande Mandamento, até mesmo dentro das igrejas mais tradicionais e teologicamente fundamentadas, e na sociedade como um todo, disfarçado de piedade para com os homens, podendo até se esconder embaixo daquilo que falou João em I Jo 4.20, quando na realidade, o significado de amar o próximo, para os apóstolos, sempre esteve intimamente ligado ao significado de amar a Deus sobre todas as coisas.

O Primeiro Grande Mandamento é: “amar a Deus sobre todas as coisas”, e o Segundo Grande Mandamento é “amar ao próximo como a si mesmo”, e o segundo se submete ao primeiro, do qual é inerentemente dependente, sendo ambos a manifestação do mesmo amor, pois só existe um amor, isto é, o amor da Trindade.

O que João nos diz em I Jo 4.20: “se alguém afirmar: ‘eu amo a Deus’, mas odiar seu irmão, é mentiroso, pois quem não ama seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê’ ” não é desculpa para amar somente o próximo, pois para os apóstolos a proeminência, acima de tudo, sempre foi o amor de Deus sobre todas as coisas.

Vivemos, porém, em um tempo diferente dos apóstolos, em uma sociedade complexa, que bebeu valores cristãos, gregos, judaicos, pagãos, orientais, todos misturados, e o humanismo e o antropocentrismo desencadeados pelo Renascimento e pregados no Iluminismo se espalharam de forma sutil em toda a humanidade ocidental, de modo que o chamado para amar a Deus sobre todas as coisas perdeu o sentido em uma sociedade consumista e materialista, hedonista em sua essência, que vive a mentira do Carpe Diem; esse chamado esvaziou-se.

Os cristãos, de certo modo, submetem-se à agenda do secularismo, e vivem uma suposta adoração na igreja aos domingos, mas experimentam o pragmatismo materialista no seu cotidiano, e não têm coragem de denunciar, no dia-a-dia, as pregações anticristãs que a sociedade dita, a todo momento, nas relações, inconscientemente, sem perceber.

Na sociedade pós-moderna, a fé perdeu o sentido.

Assim, o suposto amor ao próximo tornou-se clichê fácil e moralismo hipócrita, sem que haja amor profundo, verdadeiramente. Querem um exemplo de alguém que amou profundamente o próximo? Teresa de Calcutá. Sim, uma cristã. Ela recebeu o Prêmio Nobel da Paz, amou o homem, e nem por isso deixou de amar a Deus, sobre todas as coisas, como pode-se perceber visivelmente em suas inúmeras cartas.

Para mim, a referência para o amor ao próximo é uma Teresa de Calcutá, que disse: “O amor, para ser verdadeiro, tem que doer. Não basta doar o supérfluo a quem necessita, é preciso doar até que isso nos machuque”.

O amor ao próximo, segundo a escola do Cristianismo, é uma experiência de dor. E isso só poderá compreender quem estudar o evento da Crucificação de Jesus e sua Paixão, e quem viver, na essência, a dor inerente ao Cristianismo, que não exclui, jamais, a felicidade. Ser cristão em sua essência é viver para o próximo e é ter felicidade contagiante. Mas tudo isso começa com o amor a Deus sobre todas as coisas.

Esse texto terá continuação. Continue conosco.

Divulgue essa mensagem. Poste comentários, escreva.


Ler a continuação: A concretude do Primeiro Grande Mandamento (Segunda Parte)

sábado, 20 de maio de 2017

A necessidade de uma Filosofia Mística para os dias de hoje (Terceira Parte)

Ler primeiramente:



MÍSTICA FILOSÓFICA


Na segunda parte desse artigo tratamos da necessidade de uma filosofia que seja mística. Além disso, porém, precisamos também de uma mística que seja filosófica.

Os autores místicos, na maioria das vezes, não empregaram linguagem filosófica, embora muito de filosofia pode ser encontrado em suas obras. E a que tende a Filosofia? A uma certa perscrutação, a um certo metodismo e a uma certa sistematicidade

Ao aproximar-se da Filosofia, porém, a Mística não pode perder a sua essência, que é o mistério relacional entre a alma e Deus, e não pode tornar-se árida, mas deve manter a sua característica, que é ser pneumaticamente livre1.

Sendo assim, é necessário que o filósofo aproxime-se da Mística, mas também é preciso que o místico aproxime-se da Filosofia. O conhecimento filosófico é necessário para interpretar a realidade, e é preciso uma Filosofia e uma Mística que estejam em contato com os grandes espíritos que perscrutaram importantes essencialidades da vida humana.

Esse diálogo é assimilativo, mas também é apologético. O polemismo não é característica forte da mística – ela tende à docilidade de alma –, contudo ela precisa se caracterizar e se definir filosoficamente, e para isso é necessária uma dose consciente de apologética, que é característica de toda filosofia cristã, a qual está cercada por pensamentos que são hostis à vida do espírito.

Sendo assim, nesse diálogo existem influências, mas também existem confrontos. Esses confrontos, necessários, precisam estar relacionados à docilidade característica da Mística, e devem servir de defesa, sem ser muito contenciosos.

Verdade é que a História da Filosofia está repleta de eminentes pensadores cristãos, da Antiguidade à Pós-Modernidade – passando dos filósofos da Patrística à Escolástica, e desta à Modernidade, chegando aos pensadores apologéticos na era pós-moderna. A Mística deve passear por este caminho. Contudo, a Filosofia Mística precisa também criar raízes próprias, desenhando uma linguagem toda particular, e suas fontes principais são a vida e os escritos dos místicos. Ali ela deve buscar sua sua ética, sua metafísica e sua ontologia.

A Filosofia Mística será, portando, uma nova filosofia, a única que responderá às demandas do presente século e da era futura, e aos desafios que existem atualmente e que estão por vir.



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1 Referimo-nos, aqui, à liberdade de espírito e do Espírito

terça-feira, 16 de maio de 2017

A necessidade de uma Filosofia Mística para os dias de hoje (Segunda Parte)

Ler primeiramente: 




Iniciamos esse artigo (Primeira Parte) evocando a impactante frase do teólogo Karl Rahner, que é profética para os dias de hoje. Essa frase faz referência ao precioso universo da mística cristã. Mas o que vem a ser a mística, exatamente?


FILOSOFIA MÍSTICA

A palavra “mística”, ou “místico”, a princípio, pode assustar, pois o seu sentido se tornou desgastado e desfigurado com o tempo, podendo aludir àquilo que é sensorial, irracional ou até mesmo ao ocultismo. Porém esse não era o significado utilizado pelos cristãos antigos. A palavra “mística”, na longa tradição da História da Igreja, sempre significou a união de amor radical e misteriosa entre a alma e Deus. Assim, “místico” é a pessoa que tem uma relação radical e misteriosa de santidade e amor com Jesus.

Além disso, a mística está também relacionada a uma certa ciência do espírito1, isto é, o místico, na História da Igreja, além de ser um santo é também um cristão que possui uma ciência espiritual elevada, e é capaz de ensinar e expor a filosofia do espírito em palavras.

Exemplos de místicos da História da Igreja são: Gregório de Nissa, Pseudo-Dionísio Areopagita, Agostinho, Bernardo de Claraval, Mestre Eckhart, Macário, Teresa de Ávila, Teresa de Lisieux, Teresa de Calcutá, Edith Stein (Teresa Benedita da Cruz), João da Cruz, Catarina de Siena e Faustina Kowalska, para citar alguns.

É exatamente essa ciência, fundada em uma espiritualidade profundamente relacional, e tem por base o amor pascal de Jesus, que faz da mística cristã a única filosofia que pode suprir as demandas da carência de espiritualidade da Pós-Modernidade. O vazio provocado pelo mito do "Século das Luzes" e pelo secularismo árido só poderá ser totalmente suprido por uma filosofia do espírito que seja cristã e seja mística em sua essência.

Sendo assim, para o cristão e para o filósofo, será necessário um certo conhecimento do repertório de toda uma longa e rica tradição de místicos da Igreja, na qual a futura ciência filosófica deverá se apoiar. Uma filosofia autêntica que contemple as demandas do século de hoje será uma filosofia que respire os atos dos santos e os escritos dos místicos, dos quais a História da Igreja está impregnada. Sendo assim, é preciso uma Filosofia, uma História e uma Filosofia da História que seja a um só tempo hagiográfica e cientificamente espiritual. Pois no atual estado da sociedade pós-moderna a fé não possui sentido, se não for mística. Não possui sentido, se não for profunda.

Por conseguinte, a norteadora frase do teólogo alemão é um dos princípios basilares para o desenvolvimento de uma filosofia que seja genuinamente cristã no século XXI.

Para isso, as Obras dos místicos são o ponto de partida para o pensar filosófico, que devem ser estudadas, analisadas e imitadas. O resultado de todo esse debruçar sobre o precioso universo da mística, que se contrapõe às limitações metafísicas do secularismo, é o que deverá resultar em uma sólida Filosofia Mística, pois tais vidas e tais escritos expressam a vida de Jesus, que é o princípio norteador de toda filosofia, de toda vida espiritual e de toda a História.


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1 Tal conhecimento e experiência Edith Stein irá denominar ciência da cruz


Ler a continuação: A necessidade de uma Filosofia Mística para os dias de hoje (Terceira Parte)

sábado, 13 de maio de 2017

A necessidade de uma Filosofia Mística para os dias de hoje (Primeira Parte)

O eminente teólogo católico Karl Rahner (1904-1984) escreveu algo que é profético para os nossos dias: “o cristão do futuro, ou será místico, ou não será cristão”.

Vivemos na cultura da sociedade cristã ocidental. Muitos dos valores éticos e morais enraizados em nossa sociedade vêm de Jesus e vêm do Cristianismo. Jesus dividiu a História em duas partes e é o grande divisor de águas da cultura em que vivemos. Contudo, nossa sociedade, embora defenda muitos valores cristãos – que são defendidos inconscientemente até mesmo por muitos ateus – não permanece cristã em sua essência.

É grande o número de “cristãos não-praticantes”, ou seja, de pessoas que se dizem cristãs, mas desconhecem a essência do Cristianismo. Vivemos no caldo da cultura da Pós-Modernidade, estágio mais indolente e descrente do que a Modernidade – o estandarte do ateísmo; vivemos em uma era em que os valores ateístas difundidos pelo Iluminismo mostraram-se estéreis, e o "Século das Luzes" não mostrou a que veio, antes, mostrou ser mais irracional e ineficiente do que todas as eras que o precederam. Vivemos em uma época de inexplicável desigualdade social, de fome e miséria e tivemos, recentemente, duas grandes guerras mundiais e a Guerra Fria. E o que é, hoje, a Pós-Modernidade? É o princípio do relativismo e da incerteza filosófica: não se acredita em mais nada.

Exatamente por causa do vazio causado pela Modernidade e pela sua sucessora natural, a referida Pós-Modernidade (constatação da ineficácia da razão antropocêntrica para resolver os problemas do mundo), o mundo hoje, mais do que nunca, carece e clama por espiritualidade. E qual é um dos caminhos escolhidos por muitas pessoas que vivem na era do Capitalismo e estão sedentas por espiritualidade? A rasa e atraente espiritualidade da Nova-Era.

A Nova-Era é uma espiritualidade atraente porque prega uma religião sem um Deus definido, um deus sem rosto. O deus da Nova-Era é a natureza, as forças cósmicas, uma energia, sendo, portanto, um panteísmo frágil que aponta para uma espiritualidade que escapa do sentido etimológico mais profundo da palavra religião: tem origem no latim, religare, e significa: “religar o homem com Deus”. E se há uma religação, isso significa que existe um relacionamento, um intercâmbio entre pessoas. O Deus do Cristianismo é exatamente esse Deus pessoal, o Deus que não é uma força inconsciente que se confunde com o Universo, mas um Deus inteligente (o designer da Criação) e relacional, um Deus que se relaciona e um Deus que ama.

E se existe um relacionamento, existe também responsabilidade. Todo relacionamento requer responsabilidade. É exatamente dessa responsabilidade que a religião filha da Pós-Modernidade quer fugir, apontando para um deus sem rosto, um deus sem relações.

Outro motivo pelo qual a sociedade atual, fruto da crise deixada pela antecessora Modernidade, a qual clama por espiritualidade, é atraída pela pregação da Nova Era, é porque ela desconhece a profundidade da Mística Cristã. Muito fala-se em Buda, Allan Kardec, Paulo Coelho e Dalai Lama, mas não se conhece os escritos de místicos cristãos como Teresa de Ávila, Teresa de Lisieux e João da Cruz. Fala-se em Richard Dawkins, Christopher Hitchens, Sam Harris e Daniel Dennett (os quatro cavaleiros do famigerado Neo-Ateísmo), mas pouco se conhece de C. S. Lewis, William Lane Craig, Alvin Plantinga e Norman Geisler, importantes autores filósofos cristãos. Mas este é um assunto da próxima mensagem, continuação desse post...

Em breve criaremos um canal no Youtube com postagens de vídeos tratando de Filosofia e Espiritualidade. Continue conosco. 


Ler a continuação: A necessidade de uma Filosofia Mística para os dias de hoje (Segunda Parte)