QUARTA PARTE. DA NECESSIDADE DE UMA DISTINÇÃO DO PROFUNDAMENTE DISTINTO E JÁ ABSURDAMENTE SEMELHANTE
Decifrar a cultura cristã é algo extremamente difícil e que requer um pensamento complexo e atento às várias nuances culturais que operam em uma ensurdecedora mistura de ruídos e de pensamentos que se entrelaçam e se confundem, de modo a requerer um olhar não apenas filosófico, mas também místico-contemplativo. A era da multiplicidade requer um olhar silencioso e a capacidade de selecionar informações e estabelecer um pensamento que seja não apenas erudito, mas também profundo e complexo. É necessário não apenas perspicácia, mas também criatividade e imaginação, aliada a uma certa curiosidade necessária e um fio condutor que perpasse toda a história do pensamento, a qual se tornou menos criativa no século XX, afastando da filosofia o seu aspecto mais estruturante e próprio: o metafísico.
O mundo de hoje é extremamente complexo e muito diferente do mundo antigo porque acumulou tensão, e pensamentos difíceis de serem discernidos. A ideia de Deus tem sido debatida em toda a história da filosofia, gerando acúmulo de tensão e a falta de certeza tanto para o defensor da metafísica quanto para o cético, tendo a recente ciência não mais buscado um conhecimento certo, universal, apodítico e necessário, mas baseado em sensações. A incerteza pós-moderna é o universo da ambiguidade do pensamento, porém, não apenas em seus aspectos teóricos, mas, também, das relações.
Todo relacionamento compreende o sentimento e, acima de tudo, a vontade, mas depende também do entendimento. Se o pensamento de uma cultura é fragmentado e ambíguo, também o serão as relações. Na realidade, certa espiritualidade mais superficial tem insurgido não hoje, mas desde algumas décadas, porém é nesse momento que, podemos dizer, alcançou o seu mais alto fim e ápice: a ambiguidade absoluta.
Quem hoje é, realmente, o cristão? Não mais sabemos. Sua figura tornou-se ambígua. Discerni-lo tornou-se impossível, de modo que hoje a imagem do cristão tornou-se indistinguível da imagem do praticante de uma espiritualidade fluida. O mesmo ocorre em relação a lideranças. Confissões e rituais públicos tornaram-se insuficientes. De algum modo, será possível reconhecê-lo, mas para isso será necessário o estudo da Filosofia Mística, que é, exatamente, a que aqui é exposta.
O estabelecimento do neomedievalismo é, exatamente, o horizonte da radicalidade no universo da superficialidade, onde a Filosofia Mística, sendo conhecida, apontará o caminho filosófico-místico necessário em um mundo que testemunhou o recente desmoronamento do ateísmo e a ambiguidade das relações, e deseja encontrar o seu caminho. É, a Filosofia Mística, um caminho de construção da grande cultura, definindo conceitos, delimitando pensamentos, discernindo relacionamentos e estabelecendo, de forma concreta, determinado estruturalismo que nesse momento histórico se demonstrará, em um só tempo, absoluto, místico, transcendente e humano.
FIM DA QUARTA PARTE