segunda-feira, 21 de outubro de 2019

Neomedievalismo. Nona Parte


NONA PARTE. CONHECIMENTO ABERTO DA GRANDE CULTURA


O que caracteriza o oikoumene é, especificamente, a sua grande abertura, isto é, a constituição que lhe é própria, que o faz ser o oposto do sectário, do fechado em si mesmo e do oculto. O que não se pode dizer a todos, se diz às escuras, mas o que se pode dizer a todos, se diz abertamente ao mundo. Ora, sendo, a filosofia, a linguagem universal do pensamento, constituindo-se, então, de maneira desejavelmente exotérica, podemos dizer que é o pensamento cristão mais profundo, em sua ortodoxia, aquele que pode ser expresso de maneira absolutamente filosófica, isto é, de modo universal e necessário, constituindo aquele conhecimento desejável que é aberto a todos.

Tal conhecimento, sendo aberto, revela-se, assim, ser a própria essência do neomedievalismo, o qual, fundamentando a própria cultura, realiza o mais profundo sentido de coesão, diferente do sentimento de unidade de superfície, pois, antes de estabelecer  a experiência estética, institui  relacionamentos, e é a própria integração com o humano. Tal modo, sui generis, de relacionar-se, que é próprio do espírito cristão, difere de relacionamentos instituídos por um conhecimento que é fechado em si mesmo, âmbito onde prevalece o constante jogo de luz e sombras, no qual a confiança plena na alteridade não pode ser estabelecida. Em grande medida, o que constituirá a cultura neomedievalista será a coexistência entre dois grandes movimentos de unidade, onde o sentido de escolha será o envolvimento ou a recusa do sentimento oculto, o discernimento entre uma espiritualidade de transcendência e uma espiritualidade  de imanência, e um olhar retrospectivo em relação à Idade Média, onde fazer-se-á necessária uma escolha de leitura histórica em relação ao passado pré-renascentista, e também em relação a qual é o verdadeiro sentido da cultura do protestantismo. Será, o protestantismo, uma insistência na fragmentação dos relacionamentos, ou constituirá um novo sentido, neolitúrgico, de coesão pós-institucional, a abrigar-se no seio da própria cultura? Será, o inevitável neomedievalismo, um período de discernimento e de escolha entre dois tipos absurdamente semelhantes e profundamente distintos de espiritualidade.

A beleza da cristandade reside na capacidade renovável de ser, sempre, o convite à acolhida. Tal acolhimento se dá no fato de que será, a própria cultura, a Eclésia, e tal sentido de abertura é o que permitirá que se realize aquele conhecimento que é aberto ao próprio mundo, cuja beleza se realiza em expoentes como Martin Luther King, William Wilberforce, Teresa de Calcutá, Irmã Dulce e William Lane Craig. A beleza da espiritualidade que é própria da grande cultura é a sua grande abertura, a sua transparência e a sua cristalinidade. Isto é, se William Lane Craig e Irmã Dulce conseguiram ir tão longe como luzeiros no mundo, isto ocorreu devido ao fato de estarem disponíveis a um Amor que é Outro, que é Pessoa, e Transcendência, e que se caracteriza por realizar, na história humana, um conhecimento aberto, que não se concretiza em nenhum reduto, e em nenhum sistema sectarista fechado em si mesmo, mas que pode ser encontrado no próprio mundo.