sábado, 16 de setembro de 2017

A vida mística no Espírito Santo - Parte I

“Se vocês, apesar de serem maus, sabem dar boas coisas aos seus filhos, quanto mais o Pai que está no céu dará o Espírito Santo a quem o pedir!” (Lc 11.13)


Esse texto é uma das mais maravilhosas e pouco compreendidas proferições de Jesus.  E está em conexão com o seguinte texto de Mateus: “Se vocês, apesar de serem maus, sabem dar boas coisas aos seus filhos, quanto mais o Pai de vocês, que está nos céus, dará coisas boas aos que lhe pedirem!” (Mt 7.11). Sendo assim, enquanto em Mateus Jesus diz que Deus dá boas coisas aos que o pedem, em Lucas enfatiza que Deus dá o Espirito Santo aos que lhe suplicam. Dessarte, as Escrituras enfatizam que o Espírito Santo é a coisa mais desejada que se pode pedir a Deus. Poderíamos dizer que é mais desejada do que o ouro puro.

Mas porque, em nossa sociedade, não vemos pessoas pedindo a Deus o Espírito Santo?

Isso ocorre porque muita confusão se tem feito, nas pregações, a respeito da pessoa do Espírito Santo. Aliás, pouco se fala da pessoa do Espírito Santo, e pouco se fala do seu fruto, dando-se destaque ao poder e aos dons do Espírito, como se o poder e os dons fossem uma entidade a parte, separada da pessoa do Espírito.

Por causa dessa confusão e dessa visão “pesada” acerca do Espírito Santo, relacionando-o com manifestações extáticas, sensações, emoções, sentimentos, manifestações “de fogo”, balbúrdia e muito barulho nos ajuntamentos eclesiais, pouco se tem falado da doçura, da suavidade, da brandura, do silêncio, da docilidade e da generosidade do Espírito, características relacionadas ao seu fruto, o fruto do Espírito, conforme Gálatas 5.22-23.

E o fruto do Espírito descrito em Gálatas é: amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio (Gl 5.22-23). Características que têm a ver mais com a docilidade de alma e com o silêncio do que com barulho e manifestações “de fogo”, como se tem visto nos ajuntamentos eclesiais.

Uma pessoa cheia do Espírito Santo é uma pessoa cheia de Jesus. Assim, o que o texto de Lc 11.13 diz é que você deve pedir: “Jesus, dê-me do teu Espírito Santo. Dê-me do teu ser, de tua bondade e de teu amor. Dê-me de tua doçura e dê-me da tua salvação, através da qual posso ter em abundância a tua presença em meu íntimo, em meu ser”.

Essa perspectiva a respeito do Espírito faz toda a diferença. O Espírito Santo é o Espírito de Jesus, e recebê-lo significa receber Jesus, e significa ser salvo.

Viver a vida do Espírito de Jesus é viver a vida mística (para ver a definição cristã do que é “mística”, clique aqui). Através da vida de Jesus, somos transformados.

Viver a vida mística é viver uma vida nova, diferente, livre das ilusões e uma vida na qual é possível viver o amor de Jesus, realidade proeminente que convida todos à salvação, à graça, ao amor e à festa.


Mística - uma definição

A palavra “mística”, ou “místico”, a princípio, pode assustar, pois o seu sentido se tornou desgastado e desfigurado com o tempo, podendo aludir àquilo que é sensorial, irracional ou até mesmo ao ocultismo. Porém esse não era o significado utilizado pelos cristãos antigos. A palavra “mística”, na longa tradição da História da Igreja, sempre significou a união de amor radical e misteriosa entre a alma e Deus. Assim, “místico” é a pessoa que tem uma relação radical e misteriosa de santidade e amor com Jesus.

Além disso, a mística está também relacionada a uma certa ciência do espírito1, isto é, o místico, na História da Igreja, além de ser um santo é também um cristão que possui uma ciência espiritual elevada, e é capaz de ensinar e expor a filosofia do espírito em palavras.

Exemplos de místicos da História da Igreja são: Gregório de Nissa, Pseudo-Dionísio Areopagita, Agostinho, Bernardo de Claraval, Mestre Eckhart, Macário, Teresa de Ávila, Teresa de Lisieux, Teresa de Calcutá, Edith Stein (Teresa Benedita da Cruz), João da Cruz, Catarina de Siena e Faustina Kowalska, para citar alguns.

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Tal conhecimento e experiência Edith Stein irá denominar ciência da cruz

sábado, 2 de setembro de 2017

Secularismo – a ditadura silenciosa

Em termos de sociologia, podemos falar de um fenômeno hodierno que é sutil, nocivo e chega ao píncaro da hipocrisia. Estamos tratando do secularismo em sua forma atual: a ditadura silenciosa.

A ditadura silenciosa é o pior tipo de opressão, pois ela é sutil e camufla-se, nesse caso, com roupagens de tolerância e igualdade – liberdade, igualdade e fraternidade, o falso estandarte iluminista! – mas manifesta-se de modo completamente adverso ao que apregoa. Trata-se de uma ideologia implantada na mente das pessoas que funciona como uma fortaleza mental, um pensamento que os indivíduos manifestam inconscientemente porque foi instalado por estruturas institucionais, mediáticas e antirreligiosas.

Sendo assim, as estruturas institucionais, mediáticas e antirreligiosas, dizendo ser laicas, são, na realidade, anticristãs, pois vivendo em uma sociedade com cultura – mas não ideologia – cristã, prega valores que vão de encontro a essa cultura, através do aparelhamento ideológico que intenta transformar a sociedade em um regime opressor no qual qualquer manifestação social cristã tende a ser vista como algo intolerante, reacionário e deletério e, nas conversações informais, o Cristianismo é repulsado como sendo algo impróprio, e manifestações simpáticas ao ateísmo e à mentalidade da Nova Era são vistas como atitudes “modernas”, elegantes e sofisticadas.

Tal fenômeno, onipresente na sociedade, pode ser visto em todos os lugares: em conversas informais, no trabalho, nas redes sociais, na mídia e nas instituições educacionais. Porém, por ser algo muito sutil, é difícil de ser reconhecido, mas está implantado na mente da maioria, inclusive na mente de muitos cristãos que não construíram, ao longo de sua formação, uma sólida cosmovisão bíblica e cristocêntrica.

Por esse motivo, é necessário que as escolas dominicais e as instituições educacionais cristãs estejam atentas a esse fenômeno e ensinem uma sólida cosmovisão cristocêntrica e que seja resistente a essas manifestações, pois elas são extremamente nocivas aos valores da cultura cristã ocidental.

Dissemos, no início do texto, que tal fenômeno social é sutil, nocivo e hipócrita. Vejamos como ele coleciona, ao longo de sua trajetória, tais adjetivos.

É sutil porque não é exposto abertamente. Nenhuma emissora de televisão, nenhuma revista, nenhum jornal, nenhum partido político, nenhuma instituição educacional – e, por conseguinte, nenhuma pessoa comum influenciada por essas instituições – dirá abertamente: “Abaixo o Cristianismo! Vamos calar as ideologias intolerantes e reacionárias dos cristãos! Viva à liberdade antropocêntrica, ao materialismo e ao hedonismo, e que se dane os ensinamentos de Jesus!”. Contudo, isso é apregoado de maneira capciosa. Através de livros, novelas, reportagens, projetos de lei, etc., o antropocentrismo secular é apregoado, a filosofia cristã tenta ser desconstruída, passo a passo, e a sociedade, inconscientemente, é influenciada, de forma que, sem perceber, cria-se uma atmosfera na qual instaura-se uma ditadura silenciosa, em que qualquer manifestação de filosofia cristã profunda tenta ser calada como sendo algo impróprio e inadequado à sociedade. 

A sociedade já se tornou anticristã. Porém muitos, seguindo essas ideologias, se dizem cristãos, e não se apercebem disso.

É claro que há exceções. A música gospel cristã, por exemplo, é apreciada como algo belo e agradável por largas parcelas da sociedade. Contudo, qualquer colóquio mais profundo sobre a filosofia cristã é evitado, porque as pessoas estão armadas contra qualquer manifestação mais profunda do Cristianismo, de Jesus e sua Cruz. Dizendo-se cristãs, tornaram-se anticristãs. É a ditadura silenciosa do secularismo.

É nociva porque peca por ser intolerante e por ir contra aqueles valores fundamentais que norteiam a própria cultura,  dos quais ela está  impregnada. A essência do ensinamento do Cristianismo transcende o ateísmo, porque supera o reducionismo positivista, e transcende os ensinamentos da Nova Era, porque contempla um Deus transcendente e relacional. E não é religião velha. Apesar de ter tradição, é algo relacionado ao novo, porque a profundidade dos escritos dos cristãos místicos da Igreja permanece desconhecida (para ver a definição cristã do que é “mística”, clique aqui).

É hipócrita, porque diz que deseja a igualdade, diz que é cristã, mas rejeita os ensinamentos cristãos e intenta calá-los, a qualquer custo, através das instituições e através dos relacionamentos diários, nos diálogos informais.

O secularismo produziu, recentemente, um dos fenômenos mais sutis, nocivos e hipócritas que a cultura ocidental cristã já conheceu: a ditadura silenciosa.

Ela está entre nós.

Mas precisa ser denunciada e combatida, a qualquer custo.