Ler primeiramente:
“Respondeu Jesus: ‘Ame o Senhor, o seu Deus de todo o seu
coração, de toda a sua alma e de todo o seu entendimento’. Este é o primeiro e
maior mandamento. E o segundo é semelhante a ele: ‘Ame o seu próximo como a si
mesmo’. Destes dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas’ “. (Mt
22.37-40)
É notório que quando
alguém ama verdadeiramente o seu próximo, colocando-o como protagonista nas
relações humanas, e acolhendo-o genuinamente, está exercendo, de alguma forma,
um certo tipo de amor para com Deus.
Contudo – e isto soará
estranho aos ouvidos contemporâneos – isso, embora seja essencial, não é
suficiente.
Há um outro tipo de
amor, e é deste que trata esse texto, que refere-se diretamente à natureza de
Deus, a quem o ser humano é convidado a amar de maneira última. Todas as coisas
devem convergir para Ele – mais especificamente, a Jesus, que é o único Deus
que existe, pois só existe um Deus, que manifestou-se aos homens na pessoa de Cristo,
sendo a Trindade uma unidade que é mistério de três pessoas subsistentes em um
único Deus. Três pessoas, mas uma única substância, conforme nos diz o Credo de
Atanásio.
O que estamos
tratando nesse texto é que a transcendência deve ser entendida como uma realidade concreta. Devemos tomar uma
atitude coerente em nossas vidas: ou não se acredita em Deus, como Nietzsche e
Richard Dawkins, ou se acredita, como John Wesley e Francisco de Assis. A
suposta crença morna, que seria a tentação cômoda de um agnosticismo conceitual
ou experiencial, deve ser evitada, pois é mais realista, em relação ao drama
humano, uma das escolhas da aposta de Blaise
Pascal. O morno, conforme nos diz a Escritura, não serve e deve ser rejeitado (Ap
3.15-16). Quem diz que acredita em Deus e não assume uma atitude relacional
perante a Eternidade cai na incoerência e na hipocrisia ideológica. Todos
somos, em última instância, ou como Nietzsche ou como Francisco de Assis. O
meio-termo não existe.
Com efeito, para o
Cristianismo, ainda que uma pessoa desse sua vida para salvar todos os homens
do mundo, mas não amasse a Deus sobre todas as coisas, de nada adiantaria
Conforme nos diz
Marko Ivan Rupnik, crer é amar. E
para que Deus seja amado sobre todas as coisas de forma realista, é preciso que
se supere o relativismo nauseante e se assuma a concretude do relacionamento
para com Ele como pessoa concreta.
Esse é o verdadeiro
sentido do amor. Amar aos homens a partir do amor de Deus, com o amor com que
Deus ama.